Luto Invisível do Aborto: A Dor Emocional que Precisa Ser Reconhecida

luto invisível do aborto

O luto invisível do aborto refere-se à dor emocional profunda e silenciosa que muitas mulheres vivenciam após a perda de uma gestação — especialmente no primeiro trimestre. Embora comum, essa experiência costuma ser pouco compreendida pela sociedade, o que a torna ainda mais solitária. Mas você já parou para pensar no impacto que essa perda pode causar, principalmente em quem está tentando engravidar há tempos?

Neste artigo, vamos abordar a realidade emocional por trás do aborto espontâneo precoce, a importância de reconhecer esse luto, os caminhos para acolhimento emocional e também as condutas médicas atualizadas em casos de aborto retido — com base nas diretrizes da Febrasgo e no Manual MSD.

Entendendo o Luto Invisível do Aborto

O luto invisível do aborto é um tipo de dor que não deixa marcas físicas visíveis, mas que pode afetar profundamente a saúde mental e emocional. Essa dor pode surgir tanto em abortos espontâneos quanto induzidos por questões médicas, e ainda é frequentemente subestimada.

Muitas vezes, as mulheres que passam por essa experiência se deparam com frases que minimizam sua dor: “Você é jovem, pode tentar de novo”, “pelo menos foi no começo”, ou “isso é comum”. Embora essas falas possam ter a intenção de consolar, acabam silenciando sentimentos legítimos como tristeza, culpa, raiva e confusão.

Cada pessoa vive o luto de forma única. Para algumas, ele é passageiro. Para outras, pode durar meses ou anos. E tudo bem. O mais importante é reconhecer que esse luto existe — e precisa ser validado.

O Impacto Emocional do Aborto no Primeiro Trimestre

A perda de uma gestação esperada representa a quebra de um sonho. Mesmo que ainda não houvesse barriga aparente, nomes escolhidos ou quartinho decorado, já havia expectativas, planos e amor envolvido.

É comum que mulheres em processo de tentativa para engravidar se sintam especialmente fragilizadas diante de um aborto. O aborto espontâneo, embora frequente (estima-se que até 20% das gestações confirmadas se encerram precocemente), não é menos doloroso por isso.

A ausência de um espaço legítimo para expressar a dor pode levar ao isolamento, e até quadros de depressão e ansiedade pós-aborto. Por isso, buscar apoio emocional é fundamental.

Sentimentos Ocultos que Acompanham a Perda

Após a perda gestacional, muitas mulheres se veem imersas em uma espiral de sentimentos difíceis de nomear:

  • Culpa: “Será que eu fiz algo errado?”, “Deveria ter descansado mais?”, “E se eu tivesse evitado aquele esforço?”

  • Tristeza profunda: pela ausência de um futuro que já estava sendo imaginado.

  • Raiva e frustração: com o próprio corpo, com o parceiro, com os profissionais de saúde ou com a vida.

  • Solidão: mesmo cercada de pessoas, sentir que ninguém compreende sua dor pode ser devastador.

Essas emoções são válidas. E, acima de tudo, merecem acolhimento.

Quando a Perda se Repete: A Necessidade de Investigação

Em casos de abortos de repetição (três ou mais perdas consecutivas), é fundamental buscar investigação médica. Segundo a Febrasgo, causas como alterações hormonais, trombofilias, malformações uterinas e doenças autoimunes podem estar envolvidas. A avaliação individualizada permite diagnóstico precoce e, em muitos casos, tratamentos eficazes.

Mas mesmo quando o aborto ocorre pela primeira vez, é importante garantir um acompanhamento cuidadoso, com escuta ativa e respeito às emoções envolvidas.

Condutas Atualizadas em Casos de Aborto Retido

Quando há um aborto retido — ou seja, quando o embrião para de se desenvolver, mas o corpo ainda não o expulsou — nem sempre é necessário realizar uma curetagem (procedimento desatualizado e com riscos associados). O protocolo atual prioriza abordagens menos invasivas:

Conduta Expectante

Consiste em aguardar que o corpo expulse naturalmente o conteúdo uterino. Essa abordagem pode levar dias ou semanas, mas é segura e menos traumática para muitas mulheres.

💊 Conduta Medicamentosa

O uso de misoprostol (Cytotec®), prescrito e monitorado por profissionais de saúde, estimula a expulsão de forma eficaz e segura.

🧪 AMIU (Aspirador Manual Intrauterino)

Em casos em que há necessidade de intervenção, o AMIU é preferível à curetagem. É menos agressivo e preserva a integridade do útero.

A curetagem uterina, por sua vez, não deve mais ser a primeira opção, conforme indica o Manual MSD Profissional, pois está associada a riscos como perfuração uterina e formação de aderências.

Como Lidar com o Luto do Aborto e Buscar Apoio

Lidar com o luto do aborto é um processo. Não existe caminho certo ou tempo ideal. É uma jornada única. Algumas formas de apoio podem ajudar:

  • Terapia individual: com psicólogas especializadas em perdas gestacionais.

  • Grupos de apoio: conversar com outras mulheres que passaram pela mesma dor pode ser transformador.

  • Expressão emocional: escrever, pintar, bordar ou simplesmente chorar. Toda forma de expressão é válida.

  • Doulagem pós-perda: doulas formadas para acompanhar abortos podem oferecer acolhimento e orientação emocional.

Rompendo o Silêncio: Toda Perda Merece Reconhecimento

Precisamos falar sobre o luto invisível do aborto para que ele deixe de ser invisível. Precisamos nomear essa dor, respeitá-la e criar espaços seguros para acolher quem a vive.

Se você passou por isso, saiba: sua dor é legítima. Seu luto é real. Você não está sozinha.

📚 Referências 

  1. Protocolos Febrasgo –  Aborto: classificação, diagnóstico e conduta
    https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/gynecology-and-obstetrics/pregnancy/nausea-and-vomiting-during-pregnancy

  2. MSD Manual – Aborto espontâneo (versão profissional)
    Documento oficial com informações atualizadas sobre sintomas comuns, cuidados e direitos da gestante.

  3. MSD Manual – Aborto recorrente (versão profissional)
    https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/infertilidade-e-perda-recorrente-de-gesta%C3%A7%C3%A3o/aborto-recorrenteDocumento oficial com informações atualizadas sobre sintomas comuns, cuidados e direitos da gestante.

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