A cesariana agendada, ou cesariana eletiva, tornou-se uma prática comum no cenário obstétrico brasileiro, mas é essencial entender os riscos e impactos dessa decisão. Embora possa parecer uma opção conveniente, esse procedimento cirúrgico desnecessário pode trazer consequências para a saúde da mãe e do bebê.
Afinal, por que tantas cesarianas são agendadas? E quais são os riscos dessa escolha? Vamos explorar essas questões em detalhes.
O que é uma cesariana agendada?
A cesariana agendada é um procedimento cirúrgico realizado em uma data previamente marcada, sem que a mãe tenha entrado em trabalho de parto. Em alguns casos, há indicações médicas legítimas para essa escolha, como placenta prévia ou riscos à vida da mãe e do bebê. No entanto, no Brasil, a maioria das cesarianas agendadas acontece sem necessidade real, motivada por fatores como conveniência médica e interesses financeiros.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa ideal de cesarianas deveria ser inferior a 15%. No entanto, no Brasil, esse índice ultrapassa 55% dos nascimentos, chegando a mais de 80% na rede privada, onde muitas cesarianas são feitas sem justificativa clínica.
Os riscos da cesariana agendada para mãe e bebê
Muitas mães desconhecem os riscos envolvidos na cesariana agendada. Como se trata de uma cirurgia de grande porte, existem complicações que podem surgir no pós-operatório, como:
Maior risco de infecção e hemorragia;
Tempo de recuperação prolongado;
Problemas na cicatrização da incisão;
Maior probabilidade de complicações em futuras gestações.
Para o bebê, os riscos também são significativos. Um dos principais problemas da cesariana agendada é a possibilidade de erro na estimativa da idade gestacional. Muitas vezes, a data do parto é calculada com base na última menstruação ou no primeiro ultrassom, mas esses métodos não são infalíveis. Como resultado, bebês podem nascer antes do tempo ideal, tornando-se prematuros iatrogênicos – ou seja, prematuros não por uma condição natural, mas por intervenção médica desnecessária.
Isso pode levar a problemas respiratórios, como o desconforto respiratório transitório, que é uma das principais causas de internação em UTI neonatal em hospitais privados, especialmente em períodos festivos como Natal e Carnaval.
A Resolução do CFM e o agendamento inadequado de cesarianas
Para tentar reduzir os casos de prematuridade iatrogênica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução determinando que cesarianas eletivas somente devem ser agendadas a partir de 39 semanas de gestação. Essa diretriz é baseada em evidências científicas que demonstram que o bebê precisa desse tempo para o amadurecimento adequado dos órgãos, principalmente dos pulmões.
Apesar dessa recomendação, ainda é comum encontrar médicos agendando cesarianas para 37 ou 38 semanas, aumentando o risco de complicações para o bebê. Como a idade gestacional é estimada com base na última menstruação e ultrassonografias iniciais, há uma margem de erro, o que significa que um bebê agendado para 38 semanas pode, na realidade, ter apenas 36 ou 37 semanas de desenvolvimento.
A única maneira de garantir que o bebê está realmente pronto para nascer é esperar pelo início espontâneo do trabalho de parto. Mesmo para mulheres que necessitam de uma cesariana, o ideal é aguardar esse momento sempre que possível.
A importância do trabalho de parto para a saúde do bebê
O trabalho de parto não é apenas um sinal de que o bebê está pronto para nascer, mas também desempenha um papel fundamental na sua adaptação à vida fora do útero. Durante o processo, ocorrem mudanças hormonais essenciais, como a liberação de catecolaminas, que ajudam o bebê a eliminar líquidos dos pulmões e a iniciar a respiração de forma eficiente.
Quando a cesariana é realizada antes do início do trabalho de parto, o bebê pode não estar fisiologicamente preparado para o nascimento, aumentando as chances de complicações respiratórias e necessidade de suporte médico logo após o parto.
Por isso, a recomendação para gestações saudáveis é aguardar o início do trabalho de parto, mesmo que a via de nascimento escolhida seja a cesariana.
A recuperação após uma cesariana agendada
A recuperação de uma cesariana é mais desafiadora do que a de um parto vaginal. Como é uma cirurgia abdominal de grande porte, o ideal seria que a mulher tivesse um período de repouso absoluto nos primeiros dias, algo praticamente impossível para quem precisa cuidar de um recém-nascido.
Entre os principais desafios da recuperação, podemos citar:
Dores intensas na região da incisão;
Dificuldade para se movimentar;
Risco de abertura dos pontos e infecções;
Impactos na amamentação, devido à dor e à limitação de movimentos.
Infelizmente, muitas mulheres não recebem a orientação adequada sobre os cuidados pós-operatórios e acabam retomando atividades intensas antes do tempo recomendado, o que pode gerar complicações de longo prazo.
Conclusão
A cesariana é uma intervenção médica importante e salva vidas quando bem indicada. No entanto, sua banalização e agendamento sem necessidade representam um problema de saúde pública. O interesse financeiro e a conveniência médica não podem se sobrepor ao bem-estar materno e neonatal.
Se não há uma razão médica urgente para a cirurgia, a melhor escolha é esperar o início do trabalho de parto. Isso garante que o bebê esteja pronto para nascer e reduz os riscos para a mãe.
A informação é a melhor aliada para uma experiência de parto mais segura e respeitosa. Converse com profissionais de saúde baseados em evidências científicas e busque apoio para tomar a melhor decisão para você e seu bebê.
Referências
Desinformação contribui para taxas elevadas de cesáreas no Brasil. Disponível em https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/desinformacao-contribui-para-taxas-elevadas-de-cesareas-no-brasil/?utm_source
Cesariana eletiva é permitida a partir do 273º dia de gestação, delimita o CFM. Disponível em https://portal.cfm.org.br/noticias/em-resolucao-cfm-define-a-idade-gestacional-para-realizacao-de-cesarianas-eletivas
O que deve saber sobre a cesariana a pedido. Disponível em https://www.cuf.pt/mais-saude/o-que-deve-saber-sobre-cesariana-pedido?utm_source
Indicações e riscos de cesárea? Disponível em https://partodosdados.fsp.usp.br/indicacao-de-cesaria/?utm_source